

A última Campanha presidencial cindiu amizades longevas, afastou familiares, abriu uma fenda sem precedentes nas relações entre as pessoas. E ao que tudo indica, 2026 vai ser um pouco pior.
Repentinamente as redes sociais foram inundadas por uma série de pessoas cortando chinelas havaianas, outras jogando seus calçados fora, algumas tantas elogiando outras marcas, e eu, sem entender absolutamente nada. Até que, resolvi ir em busca da motivação de tamanha loucura.
“Desculpas, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não é nada contra a sorte, mas vamos combinar que sorte não depende de você. Depende da sorte. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada. Os dois pés na jaca. Os dois pés onde você quiser — vai com tudo. De corpo e alma, da cabeça aos pés. Havaianas, todo mundo usa".
Essa é a fala dita pela indicada ao Oscar, Fernanda Torres, que tem causado tamanha revolta em uma fatia da sociedade, que muitas vezes não sabe interpretar uma receita de bolo, e que viu nessa propaganda uma mensagem subliminar, interpretação essa que deixaria Ariano Suassuna, Dominique Maingueneau ou tantos outros estudiosos da Literatura e da linguística de queixo caído. Eles entenderam que há uma apologia aos ideais da esquerda, um trocadilho infame de apoio a um partido e suas ideias.
Estranho que um país com mulheres levando dezenas de socos em elevadores, jogadas do alto de prédios, sendo arrastadas por veículos, não causem tanta indignação, ou as interpretações óbvias e necessárias. E esse mesmo país, tem uma educação extremamente problemática, e sim, talvez resida nesse viés tamanha sandice interpretativa, somos um povo que em sua essência pouco lê, e quando decide fazê-lo, o que sai é uma interpretação tão peculiar, para dizer o mínimo. Claro está que são tempos sombrios e estranhos, e isto é apenas o esquenta do que será o período eleitoral do ano que está prestes a nascer...
Já vimos negarem a existência da Ditadura Militar, questionarem a ciência em todos os seus aspectos, fazerem uma mistura indigesta entre religião e Estado, colocando Deus no epicentro de uma disputa que ele provavelmente não aprovaria, ao menos não o Deus que proliferou o amor a ele sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Mas, isso não importa, estamos agora vivendo mais um capítulo dessa pandemia de ignorância. E como se não bastasse tudo o que já vimos, o alvo agora são as sandálias que por décadas são símbolos de uma brasilidade que tanto tem sido esquecida...
Marcos André Silva Oliveira
Formado em Letras.
Especialista em Literaturas de Expressão Portuguesa: Portugal, Brasil e África.
Advogado e Especialista em Processo Penal e Educação em Direitos Humanos
Veja Também


